sábado, 26 de maio de 2012

Não quero escutar minha avó, nem imitar minha mãe: posso com isso sem carregar tudo no braço.


Depois de um longo tempo aqui estou eu.
Não deixei de escrever por falta de assunto, mas porque estava afogada. Retorno à superfície para "boquejar" um pouco sobre a mulher que aspiramos ser na reflexão do machismo projetado sobre nós mesmas e como isso se dá na vida privada, na vida a dois. 

Parece até título de artigo antropológico, e podia ser, mas não é. Sou apenas eu aqui caraminholando.
Vamos lá, passei os últimos tempos entre Brasília, Rio de Janeiro e Barra Mansa. Porque moro no Rio, meu filho mora em Barra Mansa e fui trabalhar em Brasília. E o que isso pode ter de mais? Nada ué! Se não fosse o fato de eu ser mulher. Porque quando digo que moro no Rio, leia-se:é onde tenho casa e marido, quando digo tenho filho em Barra Mansa, é onde tenho que amar incondicionalmente, ser maravilhosa, disposta,atenta e educar; quando digo em Brasília é onde tenho que ser competente, profissional, bem sucedida, respeitada técnica e intelectualmente e reconhecida.
Todas essas tarefas juntas são humanamente impossíveis. Não; não podemos fazer isso tudo bem feito, por isso dolorosamente tive que fazer as escolhas. E não sei o quanto essa decisão pode ser comum, também não sei fazer juízo de valor dela, apenas diante da recessão do tempo e da capacidade humana da minha pessoa de administrar tudo, fiz os cortes na dedicação à casa e ao marido, abandonei tudo. Meu companheiro a meses pede comida em um restaurante mais ou menos do bairro, cuida do gato sozinho, faz as compras, paga as contas,não tem ninguém para conversar; porque sim, eu tenho chegado entre um compromisso e outro, com fome, dor de cabeça, irritada, e cansada, muito cansada...
Fiz a escolha pelo trabalho e filho, e isso poderia ser simples e racional, sem dilemas e sofrimentos, mas sou fêmea, num mundo em que até os cheiros predominantes são os de machos e os que os machos gostam de sentir. Isso significa que independente do que eu escolhesse, haveria culpa. Deixar o marido e a casa de lado,  não significa que no meu íntimo não quisesse também trazer flores para sala e de vez em quando cozinhar um peixinho que meu marido adora, acompanhado por uma Gold, regados à boas risadas, fofoquinhas brancas, conversas e planinhos. A antropóloga diz: " se ocupe menos dos outros e das obrigações socialmente constituídas para você mulher, e descubra o que te faz feliz." Caraca, mas o que me faz feliz é também esse casamento não convencional que tenho, mas cheio de afeto, companheirismo, compreensão e dancinhas no corredor (não considero todas as coisas chatas quando tenho culpa rsrs), e deixá-lo de lado... Muita culpa, muita culpa. 
Talvez como uma forma de auto-punição inconsciente eu tenha me privado de algumas coisas que gosto, como exemplo, o Blog. O que deve ter piorado o cenário, e aumentado a irritação.
A um tempo eu venho falando isso, essa mulher que nós desejamos por tantas lutas e por tantos séculos, não abriu mão de nada, chegou no seculo XXI, com mais uma função na qual ela tem que ser impecável, continua dona da casa, mãe, e agora profissional. Uma maluca, estérica, quase uma esquizofrênica. Ops! parece que estamos então discutindo a mesma mulher lá do século XIX? Não ela mudou, sofre mais, porque não ignora sua condição e tem que dar conta de conjunto muito maior de competências.
É isso, essa mulher compromete a vida privada do casal porque não relaxa. Não aprendeu a abrir mão, é uma gulosa.
E esse drama não é exclusivo, a amiga que abriu mão da casa, não recebe mais as pessoas, a que abriu do filho, faz novenas para que ele não a odeie e não se torne marginal. Que loucura!!!
Penso que esses filhos tem pais, que nestas casas tem um marido/companheiro, e que este marido/companheiro tem que ser um homem também do seculo XXI.
A encucação é nossa, não sei de verdade se nossos maridos são tão exigentes assim. Já pensei que nesse século, talvez as avós sejam mais machistas que nossos maridos e namorados. Não sei, a culpa vem quando lembro da casa da minha mãe e da minha avó. O marido tá tranquilo na poeira, e disse que vai resolver contratando uma diarista, outro dia me perguntou sobre o que eu achava de um aspirador de pó. Trocou a ração do gato  para evitar queda de pelos.
Claro que não nego a sociedade machista em que vivemos, e claro que em alguma medida ela ressona na nossa privacidade, mas creio que no interior da vida privada, muitas coisas já foram resolvidas, e a piração é nossa que não relaxamos, e ficamos, para além de tudo, copiando habilidades domésticas de nossas avós.
É isso, estou voltanto, respirando, e o vuco-vuco dos últimos meses foram de muito choro, cansaso, frustração, medo de não dar conta, e outras coisas do gênero. Parei, refleti e escrevi, acho que é hora de relaxar.

domingo, 4 de março de 2012

Ninho de amor


Não tratarei nesse post das personalidades hostis, arcaicas, demodê, ultrapassadas e arrogantes na negativa irracional pela evolução dos hábitos, porque precisamos de um mundo em movimento e pronto.
Em estágios e medidas diferentes as pessoas mudam suas concepções. Algumas, mais visionárias, mais inquietas se adiantam e mudam teorias, práticas, mudam seu local, mudam seu mundo e não tenham dúvida: isso ressona em algum outro lugar. Sobre esse aspecto temos tantos exemplos, que poderia gastar o post de Merinlyn à Gaga, de Darwin a Galton, de Gandhi a Lenon, e por aí vai.
Por outro lado, algumas pessoas, àquelas que precisam sentir-se seguras, aguardam, observam, avaliam, checam suas velhas referências, e mudam também, aceitam as novas teorias e as novas práticas, e essa é a dinâmica da mudança do mundo, da evolução social e de cada um individualmente.
Considero que o próprio processo é o maior responsável pela modificação individual, não acredito que as teorias estejam fechadas desde o início, mas sim que ela emerge ao final de um processo, onde se ganha, se perde, se atribui novos valores a coisas antigas, podendo dar novas perspectivas à vida que segue.
Vi uma reportagem outro dia, que categorizava personalidades em processo de mudanças em raposas e ouriços, e tá aí gostei da analogia dos pesquisadores. As raposas investem nas novas situações, são caçadoras, com isso vão criando sempre novo repertório diante do fato, ampliando seu leque de estratégias, mudando muitas vezes, quebrando paradigmas, solucionando e surpreendendo pela capacidade de reinventar seu local e suas ações (a raposa é fantástica). O ouriço é menos fantástico, mas muda também, assim que percebe segurança naquela mudança, que não é leviano, checa várias vezes, tem referências fortíssimas, um ciclo de relações quase indissolúvel, além de marcadores fundamentais, que devem permanecer intocados mesmo com a mudança por mais brusca que seja.
Então é isso, mudando de um jeito ou de outro, mas mudando. "Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar" Mudando porque é preciso, porque é natural, porque nos reinventamos desde a invenção de nós mesmos, por que é pra frente que anda e porque cada um de nós tem seu tijolinho depositado na construção das utopias e das esperanças, o que os mais pragmáticos chamam de plano ou projeção futura.

E com essa longa introdução vocês podem estar se perguntando do que ela está falando mesmo? Afinal esse blog não é para assuntos da vida privada de um casal?
Sim, sim, a pergunta cabe, mas logo esclareço: esse “verborragismo” todo é para falar de família. Vocês querem assunto mais privado que família? E na medida das minhas apologias, se tivesse que escolher um indicador da mudança do mundo, escolheria a família.
De maneira muito positiva eu vejo aquele quadrado se modificar, e junto com ele o comercial da margarina, se lembram de um da "Qualy"? Com o garoto já adolescente, na casa do pai, onde os dois conversavam sobre o início de um namoro, que para nossa surpresa era do pai e não do garoto. Vejo mudar o arranjo dos apartamentos: apartamento padrão terá que ter no mínimo 3 quartos, afinal, naquele fim de semana que se reunirem os meus filhos, os filhos dele, os irmãos dos meus filhos e etc., espero acomodar todos com algum conforto.
Percebo uma série de adequações, os carros utilitários, as minivans, o número de dependentes sem adicional no plano de saúde, o número de TVs e computadores dentro de casa, a quantidade de avós, primos e tios que agente se relaciona, é sério as famílias tem em média 4 avós diretas, vejam meu filho tem minha mãe, a mãe do pai dele, a minha sogra e a sogra do pai  dele.
Paradoxalmente, a população brasileira tem menos gestações, decresce o número de filhos por casais, mas se unem num arranjo tão indissolúvel e fraterno (com tudo que cabe nisso), que de fato, me parece que as famílias estão maiores, menos pobres, com responsabilidades pelos filhos mais distribuídas, porém maiores. E nem vou me esticar aqui falando dos filhos adotivos, das mães avós, dos pais irmãos, o que me parece tão comum quanto a primeira situação. 
Essa é a nova família, a família que o judiciário chama de afetiva, aquela que para a lei brasileira vale mais do que os laços de sangue. É isso, a família do amor é o que colou nos termos da mudança na nossa sociedade. E nesse passo fico feliz, acho que este arranjo abriu precedente para muitas outras famílias do amor, acho até que ela começa a ficar velhinha, espero que sim. Pois quero ter a felicidade de viver no mundo em que muitas crianças serão amadas, infinitamente amadas, cuidadas e infinitamente cuidadas, desejo que muitas crianças estejam na escola, ouçam histórias antes de dormir, escovem os dentes, apliquem o fluor, tenham o que vestir, o que comer, que o façam na hora certa, sejam infinitamente educadas, ouvidas e sentidas. Que continue esse movimento, que os ouriços percebam que o fundamental para a família, que é o amor, continua intocado, inabalado.
E por tudo isso, que a notícia extraordinária de primeiros pais biológicos homoafetivos no Brasil, seja só a primeira.
Que os casais gays, em relações homoafetivas (amor), possam ter filhos, biológicos ou não, mas infinitamente amados, cuidados e educados.
Eu não tenho desprezo pela família nuclear, sou fruto dela, inclusive, mas aprendi, porque apesar de ser fascinada pela raposa, foi como boa ouriça que entendi que o amor não é negociável para esses casais, e portanto a família é família.
Vamos torcer para ver famílias multicolor, só de pais, só de mães, de pai e mãe e muitos irmãos, e torcer e mudar e construir essas famílias, para diminuir o abandono e multiplicar o amor e afeto guardados em muitos lares para muitas crianças. como disse o jurista de Recife: "vamos lançar mão da gota serena da coragem" e mudar.
É isso, eu estou emocionada, o mundo anda mudado, e os comerciais de margarina vão ter de se virar.
E que os casais independente de sua orientação sexual possam construir ninhos de amor, pois é no ninho que o filhote se coloca.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Erotismo: não vem com bula


Eu tenho uma desconfiança de que realmente a concepção do erótico muda a partir do casamento. Talvez por perceber que o conjunto das idéias e mais um monte de coisas que se fazia e pensava serem eróticas, não são, são apenas clichês construídos por uma propaganda de convencimento absurda. Ou mudam  por um desencucamento de manter a performance também construída e vendida no erotismo comum, na pornografia e até na novela das 8.
As mulheres são vítimas terríveis dessa concepção juvenil do erótico, deixam inúmeras vezes a oportunidade do sexo passar, mesmo tendo os olhos acesos e o corpo falando, porque lembram que estão com a depilação vencida e uma calcinha grande.
Não, senhoras e meninas, sexo é sexo e pode vir com um pouco de pelo, isso inclusive está previsto, uma vez que não fazemos sexo com a testa, e de preferência sem calcinha, é o que menos importa.
O que eu quero dizer é que tenho  observado muito essa questão e percebido que principalmente no Rio de Janeiro, onde é verão semi-nu 11 meses do ano, e como já sabido por todos nós, o erótico é identidade natal, uma mudança, um relaxamento da ditadura do meia-taça, das calcinhasinhas, do salto alto, enfim daquela coisa sempre pronta para matar, a máquina mortífera do amor. Entretanto venho reforçar a tese de que essa mudança de concepção é privilégio das casadas, salvo algumas excessões.
Os casais descobrem que aquela coisa mais superficial, como o salto, por exemplo, vai embora em cinco minutos, portanto, caros leitores é preciso descobrir o erótico das preliminares, do ato em si, e dos possíveis elogios sacanas do depois.
Libertem-se, libertem-se preparem algo especial para o aniversário e sejam eróticos todos os dias, inclusive naqueles em que não houver sexo.
O casamento nos permite sermos as mulheres de verdade que nós somos, e contar para eles quem é o homem que nós desejamos e vice-versa.
O erotismo é particular de cada um e os jogos eróticos das palavras, dos gestos, dos brinquedos e das brincadeiras devem estar estabelecidos de acordo com o gosto e apetite do casal. Não há uma regra universal, erótica da madona não funciona para mim, por exemplo, porque acho aquele soutien pontudo engraçado, e considero as roupas andrógenas demais, não curto sadismo nem dominação. É gosto.
Os casais constroem alternativas mais consistentes para se manterem eróticos, e abrir caminho para essa nova concepção que garante o impagável conforto da calcinha grande, do TOP, da cueca samba-canção e por aí vai.
As flores de plásticos não morrem, mas também não perfumam, abaixo toda artificialidade entre os casais, e viva meu marido que me inspirou para esse post, por adorar a mulher da pornô-chanchada brasileira, com uma barriguinha, pouquinho peito, uma depilação duvidosa, cabelos volumosos, cintura fina e que se amarrava num barbudinho ou bigodudo, nem um pouco sarado.

O beijo, termômetro do erotismo entre os casais, mas esse merece um post especial, fica para outra ocasião, apenas aqui um conselho: beijem-se.

Queridos: ponham as crianças para dormir e boa brincadeira.



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Prova de Amor

Para começo de conversa vou explicar: sou romântica.
Não, não não! Não me confundam, não estou num romance da Disney, não espero o beijo, o príncipe, não sou a bela...
Sou romântica porque levo bem e até consigo ver poesia nas desgraças da vida, aquilo que foi meio mal, aquilo que é meio feio, então, topo dizerem que sou uma romântica a lá Bridget Jones no limite da razão.
O erro, a confusão, a briga, o chilique (na maioria das vezes desnecessário), colocam situações tão difíceis que só sendo muito romântico para reverter. Essa habilidade, o romance, é disciplina obrigatória nesse curso nada fácil chamado casamento ou vida a dois, vida privada, ou como queiram.
A crise existirá e só os românticos serão capazes de criarem clima de abonança depois destas tempestades. O romântico enxerga além do descompasso, do descabelamento maluco, das bochechas vermelhas, dos gritos etc .A vida privada é uma comédia, já dizia o mestre Nelson Rodrigues, e o romance dessa natureza burlesca, esse romance que não é romanceado, dissimulado por posturas mais firmes,ou mais eróticas, nada docinho ou melancólico, mas sim com essa habilidade para estar quase sempre no limite da razão, e com a sobriedade necessária para não transformar esse quadro num canastrão drama mexicano.
O casamento é como aquele contrato assinado em que não se  leu as letras miúdas. E é preciso muito disso chamado romance para fazer valer aquela idéia sobre o real apresentado pelo cotidiano.
Então, senhores casais o romance é a dose diária de sobrevivência do casamento, e portanto agradeçam...
por todo romance guardado no silêncio, no olhar, pelo que traz à razão, pelo riso, por guardar o riso em respeito as supostas crises ou dores, pela gentileza de ouvir e por ignorar quando não vale a pena, por massagens nos pés, por lavar o banheiro, guardar a louça, por fazer possível a convivência em nome de algo que romanticamente chamamos de AMOR.
bom domingo para os casais......

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Listas antigas


Caros amigos,
o carnaval acabou, e voltando a vida real nos deparamos com a velha lista:
Júlio: tem que trocar a persiana do quarto, buscar o ar condicionado na casa da amiga Rosana, trocar a carrapeta da torneira do tanque, consertar a maçaneta da porta da entrada social, colocar o acabamento da nossa estante da sala no lugar certo, comprar a tinta para pintar as paredes e falar com sr. Antônio o Zelador para fazer esses ajustes.
Parece uma missa, acho verdadeiramente que essas são tarefas para o macho dominante resolver, o mesmo que sempre mija no poste te envergonhando, quando não necessário. O mesmo macho que grita no taxi meio embriagado de carnaval o que quer fazer contigo no hotel. Defendo a tese de que não dá para ser meio macho, macho de conveniência, "sou macho provedor" -Eu adoro!, e não sou macho fuded... (com o perdão da palavra). Aliás meus amigos para comer tem que prover.

Sendo assim Sr. meu marido Júlio A .Rodrigues, esta lista tem prazo, e não é pressão, é viver com o mínimo de dignidade, eu preciso de maçanetas para abrir minha porta, e me recuso aquele cadarço preto que está segurando a torneira do tanque. -Aliás, bem lembrado: se aquilo segura a torneira, qual daquelas marmotas que você chama de tênis está sem cadarço?

Enfim casar implica em dividir tarefas e se ele topar encapar caixas e ajeitar vasos de flores, combinar os lençóis eu troco a maçaneta numa boa, só não vou fazer tudo.

E sem exageros, mas pelo real potencial que a coisa tem, me sinto dentro da sessão da tarde no clássico filme :"Um dia a casa Cai".