domingo, 4 de março de 2012

Ninho de amor


Não tratarei nesse post das personalidades hostis, arcaicas, demodê, ultrapassadas e arrogantes na negativa irracional pela evolução dos hábitos, porque precisamos de um mundo em movimento e pronto.
Em estágios e medidas diferentes as pessoas mudam suas concepções. Algumas, mais visionárias, mais inquietas se adiantam e mudam teorias, práticas, mudam seu local, mudam seu mundo e não tenham dúvida: isso ressona em algum outro lugar. Sobre esse aspecto temos tantos exemplos, que poderia gastar o post de Merinlyn à Gaga, de Darwin a Galton, de Gandhi a Lenon, e por aí vai.
Por outro lado, algumas pessoas, àquelas que precisam sentir-se seguras, aguardam, observam, avaliam, checam suas velhas referências, e mudam também, aceitam as novas teorias e as novas práticas, e essa é a dinâmica da mudança do mundo, da evolução social e de cada um individualmente.
Considero que o próprio processo é o maior responsável pela modificação individual, não acredito que as teorias estejam fechadas desde o início, mas sim que ela emerge ao final de um processo, onde se ganha, se perde, se atribui novos valores a coisas antigas, podendo dar novas perspectivas à vida que segue.
Vi uma reportagem outro dia, que categorizava personalidades em processo de mudanças em raposas e ouriços, e tá aí gostei da analogia dos pesquisadores. As raposas investem nas novas situações, são caçadoras, com isso vão criando sempre novo repertório diante do fato, ampliando seu leque de estratégias, mudando muitas vezes, quebrando paradigmas, solucionando e surpreendendo pela capacidade de reinventar seu local e suas ações (a raposa é fantástica). O ouriço é menos fantástico, mas muda também, assim que percebe segurança naquela mudança, que não é leviano, checa várias vezes, tem referências fortíssimas, um ciclo de relações quase indissolúvel, além de marcadores fundamentais, que devem permanecer intocados mesmo com a mudança por mais brusca que seja.
Então é isso, mudando de um jeito ou de outro, mas mudando. "Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar" Mudando porque é preciso, porque é natural, porque nos reinventamos desde a invenção de nós mesmos, por que é pra frente que anda e porque cada um de nós tem seu tijolinho depositado na construção das utopias e das esperanças, o que os mais pragmáticos chamam de plano ou projeção futura.

E com essa longa introdução vocês podem estar se perguntando do que ela está falando mesmo? Afinal esse blog não é para assuntos da vida privada de um casal?
Sim, sim, a pergunta cabe, mas logo esclareço: esse “verborragismo” todo é para falar de família. Vocês querem assunto mais privado que família? E na medida das minhas apologias, se tivesse que escolher um indicador da mudança do mundo, escolheria a família.
De maneira muito positiva eu vejo aquele quadrado se modificar, e junto com ele o comercial da margarina, se lembram de um da "Qualy"? Com o garoto já adolescente, na casa do pai, onde os dois conversavam sobre o início de um namoro, que para nossa surpresa era do pai e não do garoto. Vejo mudar o arranjo dos apartamentos: apartamento padrão terá que ter no mínimo 3 quartos, afinal, naquele fim de semana que se reunirem os meus filhos, os filhos dele, os irmãos dos meus filhos e etc., espero acomodar todos com algum conforto.
Percebo uma série de adequações, os carros utilitários, as minivans, o número de dependentes sem adicional no plano de saúde, o número de TVs e computadores dentro de casa, a quantidade de avós, primos e tios que agente se relaciona, é sério as famílias tem em média 4 avós diretas, vejam meu filho tem minha mãe, a mãe do pai dele, a minha sogra e a sogra do pai  dele.
Paradoxalmente, a população brasileira tem menos gestações, decresce o número de filhos por casais, mas se unem num arranjo tão indissolúvel e fraterno (com tudo que cabe nisso), que de fato, me parece que as famílias estão maiores, menos pobres, com responsabilidades pelos filhos mais distribuídas, porém maiores. E nem vou me esticar aqui falando dos filhos adotivos, das mães avós, dos pais irmãos, o que me parece tão comum quanto a primeira situação. 
Essa é a nova família, a família que o judiciário chama de afetiva, aquela que para a lei brasileira vale mais do que os laços de sangue. É isso, a família do amor é o que colou nos termos da mudança na nossa sociedade. E nesse passo fico feliz, acho que este arranjo abriu precedente para muitas outras famílias do amor, acho até que ela começa a ficar velhinha, espero que sim. Pois quero ter a felicidade de viver no mundo em que muitas crianças serão amadas, infinitamente amadas, cuidadas e infinitamente cuidadas, desejo que muitas crianças estejam na escola, ouçam histórias antes de dormir, escovem os dentes, apliquem o fluor, tenham o que vestir, o que comer, que o façam na hora certa, sejam infinitamente educadas, ouvidas e sentidas. Que continue esse movimento, que os ouriços percebam que o fundamental para a família, que é o amor, continua intocado, inabalado.
E por tudo isso, que a notícia extraordinária de primeiros pais biológicos homoafetivos no Brasil, seja só a primeira.
Que os casais gays, em relações homoafetivas (amor), possam ter filhos, biológicos ou não, mas infinitamente amados, cuidados e educados.
Eu não tenho desprezo pela família nuclear, sou fruto dela, inclusive, mas aprendi, porque apesar de ser fascinada pela raposa, foi como boa ouriça que entendi que o amor não é negociável para esses casais, e portanto a família é família.
Vamos torcer para ver famílias multicolor, só de pais, só de mães, de pai e mãe e muitos irmãos, e torcer e mudar e construir essas famílias, para diminuir o abandono e multiplicar o amor e afeto guardados em muitos lares para muitas crianças. como disse o jurista de Recife: "vamos lançar mão da gota serena da coragem" e mudar.
É isso, eu estou emocionada, o mundo anda mudado, e os comerciais de margarina vão ter de se virar.
E que os casais independente de sua orientação sexual possam construir ninhos de amor, pois é no ninho que o filhote se coloca.

4 comentários:

  1. lindo texto minha amiga querida...um transbordar de emoção único e verdadeiro...você com palavras sinceras reflete sua grandiosidade como ser humano...te amoooo....sua admiradora incondicional Monique Bloise.

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  2. lindo texto minha amiga querida...um transbordar de emoção único e verdadeiro...você com palavras sinceras reflete sua grandiosidade como ser humano...te amoooo....sua admiradora incondicional Monique Bloise.

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  3. Eu sou sua fã e apesar de não te ver mais, tanto assim, sei sempre one vc está...
    ... no meu coração.
    se gostou, acompanhe o blog.

    beijo Monique.

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  4. Inspirador, Mi...
    Que possamos não só construir nossos ninhos, mas cuidar de sua conservação!
    Saudades!

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