Não tratarei nesse post das personalidades
hostis, arcaicas, demodê, ultrapassadas e arrogantes na negativa irracional
pela evolução dos hábitos, porque precisamos de um mundo em movimento e pronto.
Em estágios e medidas diferentes as
pessoas mudam suas concepções. Algumas, mais visionárias, mais inquietas se
adiantam e mudam teorias, práticas, mudam seu local, mudam seu mundo e não
tenham dúvida: isso ressona em algum outro lugar. Sobre esse aspecto temos
tantos exemplos, que poderia gastar o post de Merinlyn à Gaga, de Darwin a Galton, de Gandhi a Lenon, e por aí vai.
Por outro lado, algumas pessoas, àquelas
que precisam sentir-se seguras, aguardam, observam, avaliam, checam suas
velhas referências, e mudam também, aceitam as novas teorias e as novas práticas,
e essa é a dinâmica da mudança do mundo, da evolução social e de cada um
individualmente.
Considero que o próprio processo é o maior
responsável pela modificação individual, não acredito que as teorias estejam
fechadas desde o início, mas sim que ela emerge ao final de um processo, onde
se ganha, se perde, se atribui novos valores a coisas antigas, podendo dar
novas perspectivas à vida que segue.
Vi uma reportagem outro dia, que
categorizava personalidades em processo de mudanças em raposas e ouriços, e tá
aí gostei da analogia dos pesquisadores. As raposas investem nas novas
situações, são caçadoras, com isso vão criando sempre novo repertório diante do
fato, ampliando seu leque de estratégias, mudando muitas vezes, quebrando
paradigmas, solucionando e surpreendendo pela capacidade de reinventar seu
local e suas ações (a raposa é fantástica). O ouriço é menos fantástico, mas
muda também, assim que percebe segurança naquela mudança, que não é leviano,
checa várias vezes, tem referências fortíssimas, um ciclo de relações quase
indissolúvel, além de marcadores fundamentais, que devem permanecer intocados
mesmo com a mudança por mais brusca que seja.
Então é isso, mudando de um jeito ou de
outro, mas mudando. "Nem
sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar" Mudando
porque é preciso, porque é natural, porque nos reinventamos desde a invenção de
nós mesmos, por que é pra frente que anda e porque cada um de nós tem seu
tijolinho depositado na construção das utopias e das esperanças, o que os mais
pragmáticos chamam de plano ou projeção futura.
E com essa longa introdução vocês podem
estar se perguntando do que ela está falando mesmo? Afinal esse blog não é para
assuntos da vida privada de um casal?
Sim, sim, a pergunta cabe, mas logo
esclareço: esse “verborragismo” todo é para falar de família. Vocês querem
assunto mais privado que família? E na medida das minhas apologias, se tivesse
que escolher um indicador da mudança do mundo, escolheria a família.
De maneira muito positiva eu vejo aquele
quadrado se modificar, e junto com ele o comercial da margarina, se lembram de
um da "Qualy"? Com o garoto já adolescente, na casa do pai, onde os
dois conversavam sobre o início de um namoro, que para nossa surpresa era do
pai e não do garoto. Vejo mudar o arranjo dos apartamentos: apartamento padrão
terá que ter no mínimo 3 quartos, afinal, naquele fim de semana que se reunirem
os meus filhos, os filhos dele, os irmãos dos meus filhos e etc., espero
acomodar todos com algum conforto.
Percebo uma série de adequações, os carros
utilitários, as minivans, o número de dependentes sem adicional no plano de
saúde, o número de TVs e computadores dentro de casa, a quantidade de avós,
primos e tios que agente se relaciona, é sério as famílias tem em média 4 avós
diretas, vejam meu filho tem minha mãe, a mãe do pai dele, a minha sogra e a
sogra do pai dele.
Paradoxalmente, a população brasileira tem
menos gestações, decresce o número de filhos por casais, mas se unem num
arranjo tão indissolúvel e fraterno (com tudo que cabe nisso), que de fato, me
parece que as famílias estão maiores, menos pobres, com responsabilidades pelos
filhos mais distribuídas, porém maiores. E nem vou me esticar aqui falando dos
filhos adotivos, das mães avós, dos pais irmãos, o que me parece tão comum
quanto a primeira situação.
Essa é a nova família, a família que o
judiciário chama de afetiva, aquela que para a lei brasileira vale mais do que
os laços de sangue. É isso, a família do amor é o que colou nos termos da
mudança na nossa sociedade. E nesse passo fico feliz, acho que este arranjo
abriu precedente para muitas outras famílias do amor, acho até que ela começa a
ficar velhinha, espero que sim. Pois quero ter a felicidade de viver no mundo
em que muitas crianças serão amadas, infinitamente amadas, cuidadas e infinitamente
cuidadas, desejo que muitas crianças estejam na escola, ouçam histórias antes
de dormir, escovem os dentes, apliquem o fluor, tenham o que vestir, o que
comer, que o façam na hora certa, sejam infinitamente educadas, ouvidas e
sentidas. Que continue esse movimento, que os ouriços percebam que o
fundamental para a família, que é o amor, continua intocado, inabalado.
E por tudo isso, que a notícia
extraordinária de primeiros pais biológicos homoafetivos no Brasil, seja só a
primeira.
Que os casais gays, em relações
homoafetivas (amor), possam ter filhos, biológicos ou não,
mas infinitamente amados, cuidados e educados.
Eu não tenho desprezo pela família
nuclear, sou fruto dela, inclusive, mas aprendi, porque apesar de ser fascinada
pela raposa, foi como boa ouriça que entendi que o amor não é negociável para
esses casais, e portanto a família é família.
Vamos torcer para ver famílias multicolor, só de pais, só de mães, de pai e mãe e muitos irmãos, e torcer e mudar e construir essas famílias, para diminuir o abandono e multiplicar o amor e afeto guardados em muitos lares para muitas crianças. como disse o jurista de Recife: "vamos lançar mão da gota serena da coragem" e mudar.
É isso, eu estou emocionada, o mundo anda
mudado, e os comerciais de margarina vão ter de se virar.
E que os casais independente de sua orientação sexual possam construir ninhos de amor, pois é no ninho que o filhote se coloca.